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  • Mário Sant'Ana

Covid-19: as perdas na educação que ameaçam as empresas

Atualizado: 20 de set. de 2022

Por Mário Sant'Ana, publicado originalmente em NSC Total

É sabido e tem sido discutido nesta série que, historicamente, os estudantes brasileiros aprendem pouco. Isso piorou durante a pandemia, inclusive em lugares onde o aprendizado tem sido melhor, como em Sobral. O município cearense é o primeiro colocado no ranking nacional do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Em 2005, amargava o 1.336º lugar.


Recentemente, um estudo identificou que a educação sobralense sofreu perdas importantes: “Um aluno que em 2022 está no 4º ano do ensino fundamental tem um desempenho de um aluno de 3º ano no pré-pandemia. E isso aparece principalmente em alunos dos 2º, 3º, 4º anos, cujo processo de alfabetização ocorreu no modo remoto.” — explicou a pesquisadora Isabella Starling ao jornal Valor Econômico.


Outro estudo, realizado pela Divisão de Educação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), constatou que, com as aulas remotas, no Estado de São Paulo, o risco de evasão escolar aumentou 365% e que os estudantes aprenderam 27,5% do que teriam aprendido sob condições normais.


Pobres ficando mais pobres

Na avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI), a grave interrupção na educação desencadeada pela pandemia tem um impacto desproporcional entre os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento. A educação nos países menos desenvolvidos sofreu mais e, nestes, as crianças mais pobres foram as mais prejudicadas.


O FMI calcula que os ganhos médios dos estudantes brasileiros serão 9,1% menores ao longo da vida, por reflexo do fechamento das escolas durante o isolamento. Somente para a Indonésia e para o México estimam-se perdas maiores que a nossa.


Por que ficaremos mais pobres?

Na quinta-feira, no Campus da UFSC Joinville, a produtividade foi um dos tópicos da palestra Educação como Estratégia de uma Sociedade, ministrada por Mário Ghio, presidente da gigante SOMOS Educação.


O palestrante destacou que são necessários quatro brasileiros para gerar em uma hora a riqueza que um trabalhador nos Estados Unido produz no mesmo tempo. Quando nos comparamos com os alemães ou com os sul-coreanos, a disparidade é ainda maior e tende a crescer.


A produtividade resulta de vários fatores, entre eles a capacidade de inovação e de adaptação das empresas às mudanças. Para competir nos mercados globalizados, a empresa precisa de pessoas qualificadas, capazes de combinar seus esforços para reagir corretamente a oportunidades e problemas, não meros realizadores de tarefas repetitivas. Empresas menos competitivas tendem a pagar menos.


Como mitigar as perdas

“Precisamos, agora, lançar mão de ferramentas aceleradoras [do aprendizado]” —destacou Ghio, em entrevista à colunista Estela Benetti. Ele aponta que os conhecimentos da neurociência, a análise de dados e a inteligência artificial podem ajudar os profissionais da educação, especialmente os professores, a entender o que não é óbvio e subsidiar decisões sábias.


O executivo da SOMOS também chamou a atenção das lideranças empresariais para a agenda ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança). O tema tem crescido em importância para investidores, governos e outros stakeholders, pois é visto como uma maneira de salvaguardar as organizações e os países de crises como a produzida pela pandemia de covid-19. Cresce entre esses decisores a necessidade de aumentar os investimentos alinhados por essa agenda.


Faz sentido. A sociedade não depende não apenas de bons governos, mas também de empresas que funcionem bem e sejam capazes de, além de gerar empregos qualificados, promover o crescimento equilibrado, proteger recursos naturais, valorizar os interesses dos clientes e incentivar o desenvolvimento humano.


Na dimensão “social” da sigla estão as maiores oportunidades para as empresas contribuírem com os esforços para a redução das perdas na educação causadas pela pandemia, como as citadas no início deste texto.


Além do compromisso moral que cada geração tem com a boa educação da próxima, a sustentabilidade das empresas está condicionada à saúde socioeconômica das comunidades onde se encontram que, por sua vez, depende da qualidade da sua educação.


Não há negócio verdadeiramente próspero em uma sociedade empobrecida intelectual e economicamente. Não existe desenvolvimento social sem um mercado vibrante e competitivo.


No próximo capítulo, discutiremos como as lideranças podem conjugar seus esforços para colaborar com as autoridades locais e com os profissionais da educação para mitigar as perdas que o fechamento das escolas durante a pandemia causou na educação de dezenas de milhares de crianças e adolescentes.


Conectando os pontos:

  • O acesso a educadores experientes é um fator determinante para o sucesso dos estudantes.

  • Para isso acontecer a mais meninas e meninos, é preciso mudar a estrutura atual que distribui mal os docentes com mais tempo de sala de aula.

  • Os mestres mais tarimbados podem ajudar os novatos a reduzir o tempo que gastam com tarefas administrativa e com o controle do comportamento dos estudantes para se tornarem mais efetivos na arte de ensinar.

  • É preciso melhorar a qualidade dos que cursos de licenciatura, atraindo e formando os melhores talentos. Quem mais aprende tem de ensinar mais.

  • O bom professor da educação básica é aquele cujos alunos aprendem o básico. É para isso que devem ser preparados, com menos teorias sobre o mundo que precisamos e mais técnicas para preparar o estudante para viver bem e melhorar o mundo atual.

  • Empresários e outras lideranças devem contribuir com as autoridades e profissionais da educação para minorar as graves perdas na educação causadas pela covid-19.



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